Resposta. Para mim é um prazer dirigir a Unidade do Sono do CHU de Montpellier, centro que tem uma longa tradição em medicina do sono em geral e na narcolepsia em particular.Atualmente continuamos a trabalhar sobre diversas linhas de investigação em narcolepsia: fatores genéticos e do meio ambiente, sistema imunitário, consequência da hipofunção do sistema hipocretinérgico sobre as funções cerebrais e periféricas: (cardiovasculares, metabólicas, vícios, tomada de decisões, dor, etc.) mas também sobre as novas estratégias terapêuticas para ajudar os doentes narcolépticos.
R. Encontrámos em França uma associação entre a vacina H1N1 e narcolepsia-cataplexia em crianças e adultos, em relação a controlos, comparando o fenótipo da narcolepsia segundo a exposição à vacina. A vacina H1N1 é associada à narcolepsia-cataplexia com uma OR de 6,5 nas crianças e de 4,8 nos adultos. Existem poucas diferenças entre casos expostos e não expostos. Esta associação é robusta às análises sensíveis e uma análise específica da vacina com o excipiente revela resultados similares. Penso que a associação existe independentemente da idade, embora pareça mais marcada na criança, em relação a outros fatores ambientais como as infeções.
R. Desde há 8 anos temos estudado os efeitos positivos e secundários do Pitolisant, um agonista inverso dos recetores H3 que ativa os neurónios histaminérgicos nos narcolépticos. Levámos a cabo um estudo aleatorizado, em dupla ocultação, de grupo paralelo em narcolepsia (Lancet Neurol. 2013). O Pitolisant na dose de 40 mg é eficaz tanto subjetiva como objetivamente em comparação com placebo e é bem tolerado em relação a Modafinilo. O Pitosilant pode também ser eficaz no controlo da frequência da cataplexia. Por fim, o Pitolisant pode ser um tratamento novo em doentes narcolépticos com um mecanismo de ação diferente, e um potencial para uma associação terapêutica,
R. Publicámos uma certa eficácia sobre a frequência e a gravidade das cataplexias após tratamento com imunoglobulinas intravenosas em doentes narcolépticos, com deficiência de hipocretina, e de início recente antes do tratamento. Objetivámos um efeito maior sobre os sintomas e os níveis de hipocretina no LCR num doente narcoléptico. Os nossos resultados sugerem que iniciar o tratamento quanto antes possível pode modificar o prognóstico da doença. Embora todos os estudos não sigam na mesma direção e sejam necessários estudos aleatorizados para demonstrar o potencial terapêutico das imunoglobulinas e de outros imunomoduladores o mais cedo possível após o aparecimento dos primeiros sintomas.
R. Os sintomas depressivos estão presentes nas hipersónias de origem central e fundamentalmente na narcolepsia. O sistema hipocretinérgico tem projeções importantes sobre a amígdala, o cingulum e o rafe dorsal, por conseguinte a sua hipofunção pode contribuir para a depressão na narcolepsia-cataplexia.
R. Além da função reguladora da vigília e do sono, a hipocretina parece regular os sistemas de recompensa, as emoções, o humor e os vícios. Os estudos em ratos narcolépticos são convincentes neste sentido mas os resultados no homem são preliminares. No entanto, o nosso grupo revelou que os narcolépticos cometem mais erros nas tarefas de tomada de decisão independentemente se estão, ou não, tratados. É possível um certo grau de vulnerabilidade à impulsividade, e ao jogo patológico, em doentes com deficiência de hipocretina, mas são necessários estudos alargados prospetivos para responder a esta problemática.
R. Precisamos de avançar na compreensão da fisiopatologia da doença, nas suas consequências e na otimização dos recursos sócio sanitários. A narcolepsia é uma doença rara, necessitamos de outros especialistas a nível europeu para avançar juntos na consolidação de uma rede europeia de narcolepsia: a EU-NN. Temos que trabalhar na mesma direção na investigação da narcolepsia. Foi criada uma base de dados para responder a perguntas clínicas importantes. Além da base de dados, realizaram-se a nível europeu um estudo pangenómico e um estudo farmacológico do Pitolisant. Contudo, devemos continuar a trabalhar juntos em projetos de investigação do meio ambiente a nível europeu, e especialmente na nossa rede europeia de narcolepsia EU-NN.Dra. Rosa Peraita-Adrados